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sábado, 20 de outubro de 2012

1º Inventário Participativo de Aves do Paraná - IPAVE-PR, a ONG MAE participou!

Renan Oliveira, Gustavo Sanches, Eduardo Patrial e Marcelo Arasaki. Equipe da ONG MAE  em campo na cidade de Miraselva - PR, para o 1º IPAVE. Foto: Renan Oliveira, 2012
      Recentemente, a ornitologia paranaense completou 100 anos em iniciativa da empresa Hori Consultoria Ambiental (www.hori.com.br), e de pessoas e entidades da área da Ornitologia, foi organizado e realizado o primeiro 1º Inventário Participativo de Aves do Paraná (1º IPAVE-PR). A idéia deste projeto era que voluntários - profissionais ou amantes da ornitologia - realizassem entre os dias 22 a 30 de setembro de 2012 (semana do centenário da ornitologia paranense) excursões a campo em todo estado do Paraná, afim de registrar o maior número de espécies de aves neste período, cada um sendo responsavel ou co-responsável pela sua região natal ou região escolhida.
     Nestes moldes, a equipe de Ornitologia e Birdwatching da ONG MAE - nas pessoas deste que vos fala (Renan Oliveira), Eduardo Patrial, Marcelo Arasaki e Gustavo Sanches - decidiu participar e colaborar para este ambicioso e pioneiro projeto da Ornitologia paranaense, e a vontade de colaborar era tanta que resolvemos colaborar não apenas com dados de Londrina, mas também das cidades vizinhas Ibiporã, Miraselva, Mauá da Serra e Apucarana.
     Com as cidades e locais definidos, partimos para as excursões ornitológicas em Londrina e região. Começamos pela própria cidade de Londrina, numa área muito conhecida por nós da ONG MAE, e também pelos visitantes de outras cidades que nos contratam como Guia de Observação de Aves em Londrina, a Fazenda Colorado. Decidimos começar por lá pois é uma área cujo histórico de estudos ornitológicos é bastante recente, e abriga centenas de espécies inclusive algumas raridades e exclusividades.
     Nossa amostragem foi de 8 horas na Fazenda Colorado, começando às 6:30 da manhã, terminando às 20:00, com intervalo das 10:30 às 16:00 (horário de menor atividade das aves). O resultado desta primeira amostragem foram registradas 104 espécies, dentre elas algumas pratas da casa, destaque para o Tico-tico-do-mato (Arremon semitorquatus), a Choquinha-de-dorso-vermelho (Drymophila ochropyga), o Trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis), o Olho-falso (Hemitriccus diops), o Macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus), o Tapaculo-pintado (Psiloramphus guttatus), a Tovaca-campainha (Chamaeza campanisona), o Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius), o Surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus) e o Saí-canário (Thlypopsis sordida). A lista completa desta amostragem pode ser conferida no site Táxeus pelo link: http://www.taxeus.com.br/lista.jsf?c=1025
     A segunda amostragem foi feita na cidade de Miraselva - PR, na Fazenda Colombo, onde há 2 grandes fragmentos florestais de reserva legal. Lá foram aplicadas 7 horas amostrais, começando às 7:30 horas, e extendendo até as 14:30. O resultado desta empreitada foi uma lista de 80 espécies, com destaque para o Tico-tico-do-bico-amarelo (Arremon flavirostris), o Canário-do-mato (Basileuterus flaveolus), o Pica-pau-anão-pontilhado (Picumnus albosquamatus), novamente o bonito Surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus). A lista completa pode ser conferida no Táxeus pelo link: http://www.taxeus.com.br/lista.jsf?c=1065.
     A terceira amostragem foi em Londrina, na fazenda Tangará (entorno do Parque Estadual Mata dos Godoy), e o esforço amostral foi de 4 horas, começando às 6:30 às 10:30. O resultado desta expedição foi uma lista de 122 espécies, e os destaques ficaram para o Peixe-frito-pavonino (Dromococcyx pavoninus), o Guaracavuçu (Cnemotriccus fuscatus), e o imponente Gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). A lista completa pode ser conferida no link: http://www.taxeus.com.br/lista.jsf?c=1063
    A quarta amostragem foi em Apucarana, que na verdade foram 2 amostragens, sendo a primeira no Parque Ecológico da Raposa e a segunda no Parque da Colônia Mineira. Como o maior esforço foi no parque da Raposa (das 07:30 às 10:30), e a passagem pelo Colônia Mineira foi mais para "não perder a viagem", resolvemos deixar como uma lista apenas. A idéia de ter ido passarinhar nestes parques é por serem relativamente próximos e de fácil acesso, e por eu (Renan), durante um trabalho de consultoria, avistei duas espécies raríssimas para nossa região no Parque da Raposa em 2009. Eram elas a Tesourinha-da-mata (Phibalura flavirostris) que se apresentaram na época em casal, e permaneceram um bom tempo parados interagindo - uma das maiores frustrações ornitológicas minhas é não ter uma câmera no momento - e um registro auditivo de Jaó (Cripturellus undulatus), outra ave muito rara no estado do Paraná inclusive citada como Criticamente Ameaçada de Extinção no estado.
    Apesar de nossos esforços, não conseguimos encontrar nenhuma das duas espécies, a tristeza só não foi tão grande quando a sentida ao ver a atual situação dos dois parques. Literalmente abandonados, sem segurança alguma, sem controle de acesso e usados como vazadouros de lixo (especialmente o Raposa). Obviamente ficou claro o motivo da ausência de ambas espécies, o absoluto abandono. E o que me entristece ainda mais, é que fiz parte da equipe que elaborou o plano de manejo dos dois parques, e ver que nenhuma das recomendações e orientações estão sendo realmente aplicadas. 
    No entanto, ainda assim tivemos uma grata surpresa, no Parque Colonia Mineira - o menor deles - quando avistamos um belo Gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis) pousado. Não perdemos tempo e fizemos algumas fotos, eis uma delas.
Gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). Foto: Oliveira, 2012. http://www.wikiaves.com.br/758462&p=1&t=u&u=3134&s=10195
      E por fim, a última amostragem para o IPAVE, ficou para Mauá da Serra. Um local ornitologicamente novo para nós da ONG MAE, pois já conhecíamos o lugar mas nunca fomos exclusivamente para passarinhar. E por nossa sorte, era um local riquíssimo em diversidade, com espécies raras para a região norte do Paraná. Mauá da Serra fica ao sul de Londrina, e as matas de lá são representativas da fitofisionomia Ombrófila Mista (Mata Atlântica com Araucárias), diferente dos padrões londrinenses de Floresta Atlântica Estacional Semi-decidual. É uma região de relevo bastante acidentado que oferece várias paisagens e visuais magníficos, e como esperado, também espécies magníficas.
     Para começar, logo fomos recebidos pelo arisco Macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus), o Beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris albicollis), o belo Tecelão (Cacicus chrysopterus), o Picapauzinho-verde-carijó (Veniliornis spilogaster), dentre vários outros amigos penosos. Pouco depois fomos surpreendidos com 3 belos registros. O primeiro, que surpreendeu bastante a todos, foi o Sanhaçu-frade (Stephanophorus diadematus), ave de coloração azul forte, com detalhes em negro, nuca esbranquiçada e topete vermelho, ave até então de distribuição pouco conhecida na região. 
Sanhaçu-frade (Stephanophorus diadematus), Foto: Oliveira, 2012.
http://www.wikiaves.com.br/760345&p=1&t=c&c=4115754&s=11587
    A segunda surpresa foi a presença do Grimpeiro (Leptasthenura setaria), ave famosa pela sua forte ligação com a Araucária (Araucaria angustifolia), também conhecida como Pinheiro-do-paraná. O Grimpeiro tem este nome pois passa praticamente toda a vida nas ramagens da Araucária, popularmente conhecidas como Grimpas. Nós da ONG MAE sempre suspeitamos da presença desta ave na região, uma vez que existem vários locais em Londrina por exemplo, com aglomerados de Araucaria, ainda que introduzidos, mas que poderiam muito bem abrigar o Grimpeiro. Agora nossa busca por este bicho em Londrina se intensificará pois com nossos registros em Mauá da Serra, e os registros conhecidos para Apucarana, é bem provável que eles se "escondam" em algum ponto da nossa Pequena-Londres. A melhor foto que conseguimos não é um primor, mas dá para reconhecer o bichinho, e há também nossas gravações da sua vocalização (http://www.wikiaves.com.br/760388&p=1&tm=s&t=u&u=3134&s=11059).
Grimpeiro (Leptasthenura setaria). Foto: Oliveira, 2012.
http://www.wikiaves.com.br/760328&p=1&t=u&u=3134&s=11059
      A terceira surpresa ficou a cargo da Choquinha-carijó (Drymophila malura), ave típica de bambuzais e  bordas de mata densa, e que há algum tempo estava sumida de nossos olhos e ouvidos na região. A ave não deu moleza para foto - como sempre, mas fizemos gravações excelentes de seu canto típico, vale conferir: http://www.wikiaves.com.br/760407&p=1&tm=s&t=u&u=3134&s=10900).
      Mas as surpresas aladas do local ainda não haviam acabado. Seguimos pela estrada sinuosa entre os vales florestados, e fomos surpreendidos por uma vocalização característica, e que de imediato confirmamos ser a Borralhara-assobiadora (Mackenziaena leachii), ave rara em Londrina, mas que em Mauá da Serra mostrou-se tão presente quanto sua irmã mais comum e menos ornamentada, a Borralhara (Mackenziaena severa). Foi outra ave que não deu mole para fotos, mas conseguimos a gravação de seu chamado ímpar, que pode ser conferido em: http://www.wikiaves.com.br/760412&p=1&tm=s&t=u&u=3134&s=10807.
      Mais adiante, um pica-pau cruzou a estrada em nossa frente, e ficou tempo suficiente para que fosse identificado no binóculo, e para que as câmeras fossem ligadas, mas antes que pudéssemos disparar ele voou. Era o belo Pica-pau-dourado (Piculus aurulentus), ave de hábitos discretos muito escassa na região, e que costuma viver solitária dificultando sua detecção.
      Seguimos nossa jornada e a lista das espécies foi aumentando, e nós cada vez mais impressionados com a riqueza do local, que possui uma variedade tão grande de ambientes que encontramos uma ave típica de matas de altitude, mas que as vezes se aventura em altitudes mais baixas. Era o Tico-tico-da-taquara (Poospiza cabanisi), ave de piados discretos e curtos que não podemos dizer que "não deu mole", pois ele facilitou várias vezes a foto, mas nos faltou destreza (e talvez equipamentos) para fotos melhores do que esta abaixo rsrsrs. 
Tico-tico-da-taquara (Poospiza cabanisi) Foto: Oliveira, 2012.
http://www.wikiaves.com.br/760340&p=1&t=u&u=3134&s=11821
   E a lista completa desta expedição à Mauá da Serra (125 espécies) pode ser conferida pelo link: http://www.taxeus.com.br/lista.jsf?c=1058. E assim "resumimos" a semana de colaboração da ONG MAE para o 1º IPAVE-PR, que sem dúvidas, foi uma semana de grandes registros e que nos deu uma boa injeção de ânimo na busca por novos registros no norte do Paraná. Gostaríamos de agradecer aos organizadores e incentivadores deste projeto, e a todos os ornitólogos profissionais ou amadores que de alguma forma contribuíram para esta iniciativa. É a ornitologia paranaense crescendo cada vez mais, e mostrando a que veio. Para que tenham idéia, no dia em que escrevemos esta postagem, a última contagem (14/10/12) de espécies registradas no Paraná pelo IPAVE estava em 512, e com certeza deve ter aumentado. A última publicação oficial sobre a diversidade de aves paranaense cita um total 744 espécies registradas em décadas de pesquisa, se pensarmos que em apenas 1 semana conseguimos mais de 500, é algo para nos orgulhar.
                   
                       PARABÉNS A TODOS!