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Se você é ornitólogo profissional ou amador, ou um simples amante da natureza em especial da avifauna, este é o seu Blog. De agora em diante serão postadas novidades, notícias e informações interessantes obtidas através das pesquisas e atividades realizadas pela ONG MAE - Meio Ambiente Equilibrado, sobre a avifauna brasileira.

domingo, 28 de julho de 2013

Como escolher um bom gravador para observação de aves

     Como a postagem anterior referia-se às técnicas de playback, achamos interessante fazer uma nova postagem para auxiliar aqueles que buscam iniciar-se ou aperfeiçoar-se na arte de gravar as vozes de nossos amigos penosos. Aqui explicaremos e indicaremos no que se deve estar atento para a compra de um Gravador para aves.
     Primeiramente, é interessante lembrar que o som é emitido e se propaga em forma de ondas, e essas ondas têm determinadas frequências que são medidas em Hertz (Hz). Esta unidade de medida refere-se ao número de vibrações ou oscilações da onda sonora por segundo, ou seja, uma onda de 400Hz vibra 400 vezes por segundo. A voz humana por exemplo, não costuma ultrapassar os 6000Hz de frequência independente do gênero (homem ou mulher).
      Uma ave com vocalização aguda e estridente emite ondas sonoras com alta frequência (p.ex. 15000Hz), já aves com vocalização mais grave e suave emitem ondas sonoras de baixa frequência (p.ex. 300Hz). Logo, se você pretende gravar qualquer uma destas aves hipotéticas, o seu gravador deve ser capaz de captar uma gama de ondas sonoras que englobe as duas frequências citadas. 
     Para esclarecer, se você compra um gravador cuja gama de frequências captadas é de 70Hz a 6000Hz, você conseguirá captar apenas o som da ave de vocalização mais grave (300hz), enquanto a de vocalização aguda (15000Hz) passará despercebida pelo aparelho. Agora se você comprou um gravador cuja gama de frequências é de 400Hz a 17000Hz acontecerá o contrário, e o aparelho captará apenas o som agudo, enquanto o grave passará despercebido.
      Esta questão das frequências que o gravador consegue captar, é primordial para que você ao menos consiga o registro das espécies, no entanto, ela não é garantia de que a qualidade da gravação seja boa. Você pode gravar uma ave com canto mais grave em um gravador que vai apenas até 6000hz, e ela ficar mais nítida do que uma gravação de uma outra ave de canto agudo captada por um gravador que capta até 15000hz. E o contrário também pode acontecer.
        Uma das características que resulta nesta diferença, é o formato da mídia que será gravada, e isto varia obviamente entre um gravador e outro.
         Existem gravadores de vários tipos... como os antiquíssimos gravadores "portáteis" de rolo:
os populares gravadores de micro-fita cassete:
gravadores de fita cassete portáteis e não tão portáteis assim:


e os gravadores digitais profissionais e super compactos:


           Mesmo com tanta variedade de gravadores, dá pra simplificar bastante a análise.
     As chances de você encontrar um gravador de Rolo portátil funcionando, e ter disposição para carregar um destes durante sua passarinhada (especialmente se você não é profissional da área), são reduzidas, então de cara podemos descarta-los das possibilidades.
     Então fiquemos entre os gravadores de fita, micro-fita e digitais.
     Os gravadores de fita ou micro-fita, mesmo que apresentem uma vasta gama de frequências (p.ex. o aclamado Sony TCM-5000EV e sua invejável gama de 90-90000hz) dependem muito da qualidade da fita em si para que as gravações sejam feitas com menos ruído e/ou mais fiéis. Trocando em miúdos, não adianta utilizar um TCM-5000EV com uma fita de baixa qualidade. A maior diferença entre as fitas cassete comuns, e as micro-fitas cassete - além do tamanho físico é claro - é o tempo de gravação de cada uma. As comuns foram popularizadas com os modelos de 60 minutos (30 de cada lado da fita), enquanto as micro-fitas gravam apenas 30 minutos (15 de cada lado). Se você é um gravador ocasional, esta diferença de tempo pode não representar um incômodo, mas se você é um profissional da bioacústica esteja preparado para carregar algumas "fitinhas". Como esperado, as fitas cassete passaram por um longo processo de aperfeiçoamento, em busca de uma composição da fita magnética que fosse mais resistente ao tempo e às constantes gravações e regravações (quem usou fitas sabe bem o que é gravar e apagar as fitas para que sejam reaproveitadas). O ápice desta evolução são as fitas IEC Type IV, também conhecidas como fitas "Metal", que eram consequentemente, mais caras que as IEC Type I, II e III.
     Mas ainda haviam outras táticas para melhorar ainda mais a qualidade das gravações nas fitas Cassete, e uma delas era aumentar a velocidade de gravação.
     Como assim?
     A grosso modo, uma fita de 60 minutos, seria utilizada para gravar apenas 30 minutos no mesmo espaço, utilizando uma velocidade de gravação de 2x. Ou seja, se para 20 segundos de gravação, numa velocidade normal seriam utilizados 30 centímetros da fita, em velocidade duplicada seriam utilizados 60 centímetros da mesma fita.
      E como isto melhora a qualidade?
      É uma questão de resolução, e podemos usar o exemplo de um quadro. Um pintor retratista consegue reproduzir mais detalhes da pessoa em uma tela do tamanho de um cartão de visitas, ou em uma tela do tamanho de uma cartolina? Funciona mais ou menos assim com o som, se você oferece mais espaço para gravar uma mesma faixa, mais detalhes serão reproduzidos.
      Agora a pergunta fatídica: Compensa investir num gravador de fita em plena era digital?
      Eu diria: Talvez.
      Se você herdou de seu pai ou avô, um gravador de fita profissional, com especificações maravilhosas, e com fitas de boa qualidade, dá pra usar sem medo. As gravações ficarão ótimas, e é possível você digitaliza-las posteriormente com um computador munido de uma boa placa de som, com um bom software, para não perder a fidelidade das gravações.
      Agora se você não herdou, e pretende adquirir um, a não ser que a oferta seja irrecusável, acho que você não iria querer carregar um monte de fitas pra cima e pra baixo, além do próprio gravador grande e pesado, por um preço até hoje salgado (mesmo os usados) e ainda ter que correr atrás de fitas cassete Metal, que estão cada vez mais raras no mercado.
       Um fator, que pra mim é decisivo na opção por não usar gravadores de fita, é a dificuldade de ficar rebobinando a fita para conferir a gravação, mesmo naqueles gravadores com marcador de tempo. É um tanto chato ficar alternando entre os botões RW e FF até encontrar o ponto da gravação. Sem contar a chance de você rebobinar demais a fita sem querer, e sobrepor suas gravações com outras.
       Por fim, antes tarde do que nunca, vamos aos gravadores digitais.
      Como o próprio nome diz, são gravadores que utilizam midias digitais para gravação, seja uma memória flash interna, ou cartão de memória, ou mesmo pen drive. As vantagens dos gravadores digitais de modo geral são: tamanho reduzido, alta capacidade de tempo de gravação (não é difícil encontrar modelos que gravam até 48 horas utilizando apenas a memória interna). E mesmo que o gravador não tenha uma mémoria interna generosa, se ele tiver entrada para cartão de memória, é muito mais fácil carregar alguns cartões no bolso, do que algumas fitas cassete. Já a desvantagem vai de encontro com a de qualquer outro produto, o barato pode sair caro.
      Novamente, é importantíssimo estar atento às especificações técnicas do gravador. A gama de frequência continua sendo uma das principais características a serem consideradas, e para que um gravador seja efetivo no mundo ornitológico, esta gama de frequencia deve ser a mais abrangente possivel. Costumo dizer que se existisse um gravador que captasse de 1hz até 100000hz seria perfeito, mas o mínimo para um gravador digital de qualidade é algo em torno de 70 - 15000hz, e conforme as medidas vão além deste padrão para os dois lados (de 70 ou menos, até 15000 ou mais), melhor a capacidade e fidelidade de graves e agudos.
       Outra especificação que devemos estar atentos, é a taxa de amostragem (sampling rate) do gravador. A taxa de amostragem mínima dos aparelhos de boa qualidade, é de 44.1khz, e também são os mais comuns. Outros valores razoavelmente comuns são de 48khz e 96khz, obviamente, refletem no preço do aparelho. Para fins de comparação, o que há de mais avançado (das tecnologias já difundidas para todos) em qualidade de som, são os discos de audio DVD e Blu-ray, com capacidade de gravação e reprodução de 192khz. Quanto maior a taxa de amostragem, maior a qualidade de som, e maior o preço do aparelho.
      E por fim, para não alongar ainda mais o texto, a taxa de bits (bit rate) do gravador. Quem nunca encontrou a mesma música em mp3, com qualidade e tamanho de arquivos completamente diferentes? É aí que entra a taxa de bits, ou como representados no mundo digital, o valor de kbps. Uma música codificada num arquivo de 128kbps, terá uma clareza sonora menor do que a mesma música codificada num arquivo de 320kbps. E como esperado, o arquivo com 320kbps será muito maior do que o com 128kbps. Novamente aquela relação "tamanho-qualidade". Se seu gravador disponibiliza mais kbps para uma gravação, ele conseguirá reproduzir mais detalhadamente a mesma. O recomendado é que se busque gravadores com bit rate de no mínimo 128kbps, para que (aliado às outras especificações já faladas) o gravador consiga captar uma réplica aceitável de qualquer emissão sonora.
        Há ainda outras características a serem analisadas num gravador digital? Com certeza, se você for buscar tudo, ficará um bom tempo pesquisando, como por exemplo se ele oferece conexão USB para computadores. Parece absurdo mas o meu primeiro gravador digital não tinha conexão USB, e eu tinha que passar as gravações para o PC como se fosse um gravador de fita, reproduzindo faixa por faixa e gravando num software específico.
           Bom, apesar de longo, espero que o texto seja um pouco esclarecedor e auxilie todos na escolha de um bom gravador. E gostaria de pedir para quem não leu, que conferisse a postagem sobre até onde podemos ir com o uso de Playback na observação de aves (http://ornitologiamae.blogspot.com.br/2013/02/tecnica-de-playback-na-observacao-de.html). Afinal, se você adquire um gravador, uma das funções dele é criar seu próprio banco de dados sonoro, cuja utilização pode ir das pesquisas de bioacustica, venda de trilhas sonoras, uso como toque de celular, ou como acervo de playback para uma "passarinhada".

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Técnica de "Playback" na observação de aves, até onde podemos ir?

     As aves sempre fascinaram o homem, seja pelas suas variadas combinações de cores e contrastes, ou pela notória capacidade de voar. Esta admiração resultou num cenário rico em pesquisas e amantes ornitológicos (exceto aqueles que se dizem amantes das aves mas "apreciam-nas" em gaiolas), que contribuem para a preservação destes formidáveis seres alados. 
       Pesquisadores e observadores andam praticamente juntos atualmente, com um grupo usufruindo dos resultados do trabalho do outro. É fácil observar isto, por exemplo, quando se vê dezenas de pesquisadores "migrando" para um determinado local, onde por acaso, um observador informalmente registrou uma determinada espécie de grande importância. O contrário também ocorre, quando vemos dezenas de observadores que "migram" para um determinado local onde foram descobertas centenas de espécies durante alguma pesquisa da avifauna. Esta relação pesquisador-observador é sem dúvidas muito importante e proveitosa para ambos lados.
      Mas todos sabem, ou pelo menos imaginam, que registrar aves em seu habitat natural, é muito mais complicado do que parece. As vezes você abre um livro de aves de um determinado local, e nele há fotos e mais fotos de várias espécies comuns e raras, e você pode até pensar "poxa se eu for neste lugar então eu vou ver tudo isto?", mas obviamente não é assim que funciona. Os registros com certeza são frutos de anos de trabalho se especializando e correndo atrás dos bichos.
     E para facilitar os registros, há várias décadas vêm sendo criadas e aperfeiçoadas técnicas de Bioacústica, que é um ramo da Biologia que estuda as vocalizações dos animais, sendo aplicada para estudos com Aves, Anuros, Mamíferos e Insetos. A bioacústica visa entender os tipos de vocalizações de cada espécie, a função de cada tipo de vocalização, e consequentemente, aprimorar os conhecimentos etológicos (comportamento animal). É desta ciência que surgiram as técnicas de gravação das vocalizações e consequentemente, o playback.
     Um dos pioneiros da Bioacústica é o Engenheiro de formação Johan Dalgas Frisch, que desbravou o Brasil atrás de novos registros sonoros de nossos amigos penosos com seu gravador de rolo e microfones "caseiros". Foi também pioneiro ao lançar discos de cantos de aves, em especial os discos com clássicos da música mundial permeados de cantos de aves brasileiras (é bem interessante ouvir "Tico-tico no fubá" somada aos cantos de várias aves começando pelo próprio Tico-tico).
Johan Dalgas Frisch. Fonte: Aves Brasileiras Minha Paixão, Frisch (2005)
    Outro nome de respeito na Bioacústica, é Jacques Vielliard(1944-2010†), um pesquisador Francês que veio ao Brasil em 1976, e foi o responsável pela criação do Laboratório de Bioacústica da UNICAMP, um dos mais completos do Brasil.

Jacques Vielliard
     Cada um com sua abordagem, um mais passional, e o outro mais técnico, os dois com certeza são os principais tutores dos ornitólogos de hoje neste fascinante e complexo ramo da bioacústica das aves ("ornitoacústica" talvez?... kkkkk). Se você é um Ornitólogo técnico, utiliza a bioacústica em seus trabalhos, e nunca ouviu falar destes dois, e por isso acha que não eles são seus tutores, pergunte ao seu professor ou orientador, e veja com quem ele aprendeu. hehehehe.
      O que talvez nem Dalgas tampouco Vielliard imaginariam é que a bioacústica fosse se tornar algo tão acessível como está hoje. Atualmente é possível encontrar gravadores de ótima qualidade até mesmo em supermercados, coisa que há 50 anos atrás era inimaginável.  Há cada vez mais pessoas - pesquisadores ou não - com bons equipamentos de gravação fazendo registros sonoros de aves pelo Brasil a fora. Com isto, uma verdadeira chuva de gravações tem sido submetidas diariamente aos sites especializados e de livre acesso sobre aves, como o pioneiro "Xeno-canto" e a nova febre nacional "Wikiaves". 
     Hoje em dia Literalmente qualquer pessoa que tenha um mp3 player ou um celular com capacidades musicais pode forrar seus aparelhos com cantos de aves "baixados" da internet, e se aventurar por aí reproduzindo os cantos e fazendo o que chamamos de playback.
     Isto é ótimo não é!?
     Digamos que Sim, mas Não.
     SIM, pois com mais pessoas se interessando pelos nossos amigos alados, mais pessoas são sensibilizadas pela sua beleza e diversidade, e consequentemente atentam para a importância da preservação ambiental.
     E NÃO, porque muita gente não sabe lidar com este "poder" adquirido ao carregar seu aparelho lotado de cantos de aves. Vou explicar melhor.
     O Playback começou a ser utilizado na ornitologia para facilitar o trabalho e os registros das espécies de aves, em especial durante pesquisas e estudos. Muitas vezes esta técnica é utilizada apenas para atestar a presença de determinada espécie em determinado local para daí então. se a espécie permitir, tentar uma aproximação para foto.
     Mas o que tem acontecido ultimamente, é que com incrível crescimento no número de pessoas interessadas em praticar a observação de aves no Brasil há, obviamente, mais visitação humana nos locais tidos como "ideais" para a prática. São cada vez mais pessoas adentrando em matas e unidades de conservação, e que de posse de seus equipamentos para playback saem tocando as mais variadas aves afim de fazer bons registros das espécies. Isto por si só, já pode representar um infortúnio para as aves, que antes conviviam esporadicamente com pesquisadores, e hoje recebem quase diariamente pessoas comuns e Guias munidos de "playback".
     E conforme o observador de aves aumenta seu número de espécies registradas, obviamente as espécies mais crípticas e aríscas vão se tornando prioridade. E aí mora um perigo maior ainda.
     Se a espécie é naturalmente arisca, é porque ela NATURALMENTE (volto a dizer) não gosta da presença de outros animais, incluindo esse tal de Homo sapiens. E de repente, esta espécie começa a ser chamada com mais frequência, e quando é chamada, o misterioso "parceiro" simplesmente canta sem parar e quanto mais a ave procura, menos pista encontra de tal parceiro.
     Recapitulando... uma espécie arisca, que não costuma cantar muito, que se esconde durante todo o dia, de repente se depara com um misterioso ser de sua própria espécie (playback) que canta sem parar. Agora imaginem esta situação se tornando cada vez mais constante, com esta nova "superpopulação" de passarinheiros por aí.
    Eu (Renan Oliveira) sou Biólogo e Guia de Observação de Aves, isso não é mistério para ninguém, inclusive ofereço junto à ONG MAE a atividade de birdwatching por este blog. Com isto tenho tido bastante contato com clientes, amigos passarinheiros, e com outros Guias. Uma das reclamações mais comuns entre os guias é "Guiei uma pessoa que ficava pedindo pra eu fazer playback até a ave parar em um determinado local pois lá era onde a luz estava melhor para a foto". A reclamação tem total fundamento, em especial para aqueles guias com um pouco mais de instrução sobre a biologia das aves.
      O maior problema, é que não há comprovação científica significativa de que playback faz "bem ou mal" para as aves. Neste caso, nos resta compartilhar experiências.
      Há alguns anos, eu (Renan Oliveira) estava em uma unidade de conservação em Londrina, ainda no início de minhas expedições ornitológicas sérias, resolvi tentar fotografar um dos passarinhos mais comuns e também um dos mais procurados por aqui, o Estalador (Corythopis delalandi). Obviamente, para facilitar o processo, resolvi usar meu acervo sonoro e soltar o bom e velho playback.
        Comecei a chamar a ave, que prontamente começou a responder... Conforme eu seguia chamando a ave, ela aproximava mais e mais... Nesse meio tempo haviam passados aproximadamente 20 minutos de "diálogo" entre minha caixa de som e a ave. Obviamente meu playback não era constante ao longo destes 20 minutos, e eu só tocava depois que a ave respondia.
        De repente comecei a escutar a ave sempre de um mesmo ponto, e adentrei um pouco na mata para tentar a foto. Para minha surpresa, ela estava no chão, cantando próximo ao tronco de uma pequena árvore,  de onde ele tentava pular para um galho que estava a mais ou menos 30 cm de altura. Uma altura baixíssima para uma ave, mas que o pobre Estalador não conseguia subir.
         Logo notei que eu havia estressado tanto o animal que ele havia praticamente perdido as forças e mau conseguia sair do chão. Fiquei chocado, e o remorso tomou conta no mesmo minuto. A partir daquele momento, me afastei do bicho e fiquei acompanhando em silêncio para ver se ele se recuperava e seguia sua vida. Por minha sorte (foi sorte mesmo) depois de alguns minutos ele se recuperou e voou pra dentro da mata.
        Resumo da história, a partir daquele dia, nunca mais "azucrinei" uma ave para conseguir o melhor registro, e tenho orientado a todos que tenho contato, profissionais ou amadores, para tomarem o mesmo cuidado. Do mesmo jeito que certas espécies são muito tolerantes, outras podem sofrer bastante com o uso excessivo de playback.
       E ainda assim, mesmo aves mais comuns - como é o caso do Estalador em Londrina - que teoricamente seriam mais tolerantes ao contato humano, podem sofrer com o uso excessivo da técnica.
           Uma dica?
           Aprenda a respeitar a vontade das aves, e só faça o registro que elas permitirem. Já fiz muitas fotos e gravações sem playback, que ficaram ótimas. Muito mais do que ter o canto da ave e chama-la com seu equipamento até uma "super pose" para observar ou fotografar o animal, a observação de aves é uma arte de como você deve se comportar no ambiente delas, sempre com o mínimo de barulho, e o máximo de respeito.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Grupo de Ornitologia e Birdwatching da ONG MAE orienta aluno de graduação da UNIFIL em trabalho com aves.

Sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) no Jardim Botânico de Londrina
     O Grupo de Ornitologia e Birdwatching da ONG MAE conta com profissionais capacitados e com vasta experiência na área. E além da atividade de Observação de Aves (Birdwatching), os profissionais do grupo contribuem ainda para pesquisas e trabalhos acadêmicos com aves. Um exemplo foi a co-orientação - agora já graduado Gestor Ambiental - Gustavo Garcia Sanches, em seu trabalho de conclusão de curso pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) em Londrina. Gostaríamos de agradecer ao próprio Gustavo pela oportunidade, e ao seu orientador o Professor Ms. Horácio Mori - profissional de competência inquestionável na área de Zoologia - por ter aceitado esta parceria.
     Para contar um pouco sobre este trabalho, resolvemos postar um depoimento do próprio autor:
     "Como escolha do tema para o Trabalho de Conclusão de Curso, eu, não restavam dúvidas, decidi fazer algo relacionado aos "seres penosos" e, aproveitando o ensejo de poder estudar as aves de uma área com poucas pesquisas, convidei para ser meu co-orientador o amigo e ornitólogo Renan Campos de Oliveira, cuja experiência em trabalhos de campo com aves merecia uma narrativa a parte. A área escolhida para tal incumbência foi o Jardim Botânico de Londrina, um fragmento de mata relativamente isolado e inserido em uma matriz urbana, que sofre uma pressão antrópica bastante significativa, reforçando ainda mais a importância de se estudar as fauna - especialmente as aves - desta área.
     Durante os meses de Fevereiro/2012 a Maio/2012 fizemos incursões quinzenais ao Jardim Botânico, a fim de se levantar a maior quantidade de espécies de aves possíveis, utilizando, dessa forma, os seres alados como indicadores de qualidade do ambiente. Por se tratar de um fragmento com um recorte bastante retangular e inserido em um oceano de condomínios horizontais e plantações de soja, não nos espantou a baixa ocorrência de espécies florestais e, tampouco o grande afluxo de espécies generalistas, que se beneficiam e muito com essas alterações estruturais.
     Entretanto, para nossa quase síncope e frutífera alegria, ouvimos alguns bichos que são raros na região e, que possivelmente estão utilizando a área do Jardim Botânico como abrigo temporário (ou permanente, haja vista que não fizemos estudo de sazonalidade), demonstrando a importância de se conservar pequenos fragmentos, mesmo aqueles inseridos em áreas urbanas. Alguns destes “highlights” do estudo foram; Trovoada-de-bertoni – Drymophila rubricollis, Peixe-frito-pavonino – Dromococcyx pavoninus, Negrinho-do-mato – Cyanoloxia moesta, Gavião-miúdo – Accipiter striatus e o imponente Falcão-relógio – Micrastur semitorquatus.
     Ao fim e ao cabo do estudo, como produto final foi gerado uma lista com 136 espécies de aves, incluindo espécies aquáticas, florestais e campo aberto, sendo um material que vem a somar com as listas de aves londrinenses e servindo como referência para futuros estudos na região do Jardim Botânico e que, vale ainda dizer, nada impede de que novas espécies de aves possam ser registradas no local do estudo."
     Como viram, sem dúvidas foi um trabalho engrandecedor tanto para o Gustavo quanto para o nosso grupo. Não conseguimos fotos dos "Highlights" citados pelo Gustavo, no entanto vale a pena destacar outros penosos interessantes e belos que encontramos por lá, como o Mergulhão-pequeno (Tachybaptus dominicus):

a esguia Maria-faceira (Sirygma sibilatrix):

o Pimentão (Saltator fuliginosus) e seu bico rubro:

o sempre bem-vindo Tucano-do-bico-verde (Ramphastos dicolorus):

e o valente casal de Falcão-de-coleira (Falco femoralis)
     
     Como bons ambientalistas e amantes da natureza, não somos de fechar os olhos para demais grupos animais que encontramos durante nossas expedições. E tivemos também contato visual direto com um simpático Preá (Cavea aperea) que apareceu na estrada e veio em nossa direção passando a meio metro de nós (maravilhados e atônitos no momento), e   uma família de Furão-pequeno (Galictis cuja) pouco tempo depois na mesma estrada, todos tão embaralhados entre si que de longe parecia uma bola de pêlos no meio da estrada.
     Encontramos também rastros do arisco Mão-pelada (Procyon cancrivorus):
Rastro de Mão-pelada (Procyon cancrivorus)

Bom, é isso!
Esperamos que tenham gostado dos relatos, e aguardem novas postagens!
 
E como não podia faltar, a seguir a lista completa das espécies registradas durante o estudo:

Nomes Científicos
Nomes Populares
Tinamidae (Inhambús)

Crypturellus tataupa
Rhynchotus rufescens
inhambu-chintã
perdiz
Anatidae (Marrecas)

Cairina moschata
Amazonetta brasiliensis
pato-do-mato
pé-vermelho
Cracidae (Jacús)

Penelope superciliaris
jacupemba
Podicipedidae (Mergulhões)

Tachybaptus dominicus
mergulhão-pequeno
Phalacrocoracidae (Biguás)

Phalacrocorax brasilianus
biguá
Ardeidae (Garças)

Butorides striata
socózinho
Cathartidae (Urubus)

Coragyps atratus
urubu-de-cabeça-preta
Accipitridae (Gaviões)

Accipiter striatus
Rupornis magnirostris
gavião-miúdo
gavião-carijó
Falconidae (Falcões)

Caracara plancus
Milvago chimachima
Micrastur semitorquatus
Falco femoralis
caracará
carrapateiro
falcão-relógio
falcão-de-coleira
Rallidae (Saracuras)

Aramides saracura
Gallinula chloropus
Porphyrio martinica
saracura-do-mato
frango-d’água-comum
frango-d’água-azul
Charadriidae (Batuiras)

Vanellus chilensis
quero-quero
Scolopacidae (Maçaricos)

Tringa solitaria
maçarico-solitário
Jacanidae (Jaçanãs)

Jacana jacana
jaçanã
Columbidae (Pombos)

Columbina talpacoti
Columbina squammata
Columbina picui
Patagioenas picazuro
Patagioenas cayennensis
Zenaida auriculata
Leptotila verreauxi
Leptotila rufaxilla
rolinha-roxa
fogo-apagou
rolinha-picui
pombão
pomba-galega
pomba-de-bando
juriti-pupu
juriti-gemedeira
Psittacidae (Papagaios)

Aratinga leucophthalma
Forpus xanthopterygius
Pionus maximiliani
periquitão-maracanã
tuim
maitaca-verde
Cuculidae (Anús)

Piaya cayana
Crotophaga ani
Guira guira
Dromococcyx pavoninus
alma-de-gato
anu-preto
anu-branco
peixe-frito-pavonino
Strigidae (Corujas)

Athene cunicularia
coruja-buraqueira
Caprimulgidae (Bacuraus)

Nyctidromus albicollis
bacurau
Trochilidae (Beija-flores)

Phaethornis pretrei
Phaethornis eurynome
Eupetomena macroura
Chlorostilbon lucidus
Amazilia lactea
rabo-branco-acanelado
rabo-branco-de-garganta-rajada
beija-flor-tesoura
besourinho-de-bico-vermelho
beija-flor-de-peito-azul
Trogonidae (Surucuás)

Trogon surrucura
surucuá-variado
Alcedinidae (Martim-pescador)

Megaceryle torquata
Chloroceryle amazona
Chloroceryle americana
martim-pescador-grande
martim-pescador-verde
martim-pescador-pequeno
Momotidae (Juruvas)

Baryphthengus ruficapillus
juruva-verde
Ramphastidae (Tucanos)

Selenidera maculirostris
araçari-poca
Picidae (Pica-paus)

Picumnus temminckii
Melanerpes candidus
Colaptes melanochloros
Celeus flavescens
Dryocopus lineatus
pica-pau-anão-de-coleira
pica-pau-branco
pica-pau-verde-barrado
pica-pau-de-cabeça-amarela
pica-pau-de-banda-branca
Thamnophilidae (Chocas)

Hypoedaleus guttatus
Mackenziaena severa
Thamnophilus doliatus
Thamnophilus caerulescens
Dysithamnus mentalis
Drymophila rubricollis
Pyriglena leucoptera
chocão-carijó
borralhara
choca-barrada
choca-da-mata
choquinha-lisa
trovoada-de-bertoni
papa-taoca-do-sul
Conopophagidae (Chupa-dente)

Conopophaga lineata
chupa-dente
Dendrocolaptidae (Arapaçus)

Sittasomus griseicapillus
Campylorhamphus falcularius
arapaçu-verde
arapaçu-de-bico-torto
Furnariidae (João-de-barro)

Furnarius rufus
Synallaxis ruficapilla
Synallaxis frontalis
Synallaxis spixi
Certhiaxis cinnamomeus
Philydor lichtensteini
Lochmias nematura
joão-de-barro
pichororé
petrim
joão-teneném
curutié
limpa-folha-ocráceo
joão-porca
Tyrannidae (Bem-te-vis)

Leptopogon amaurocephalus
Corythopis delalandi
Myiornis auricularis
Myiopagis viridicata
Elaenia flavogaster
Camptostoma obsoletum
Tolmomyias sulphurescens
Myiophobus fasciatus
Lathrotriccus euleri
Pyrocephalus rubinus
Colonia colonus
Machetornis rixosa
Myiozetetes similis
Pitangus sulphuratus
Myiodynastes maculatus
Megarynchus pitangua
Empidonomus varius
Tyrannus melancholicus
Tyrannus savana
Sirystes sibilator
Myiarchus ferox
cabeçudo
estalador
miudinho
guaracava-de-crista-alaranjada
guaracava-de-barriga-amarela
risadinha
bico-chato-de-orelha-preta
filipe
enferrujado
príncipe
viuvinha
suiriri-cavaleiro
bentevizinho-de-penhacho-vermelho
bem-te-vi
bem-te-vi-rajado
neinei
peitica
suiriri
tesourinha
gritador
maria-cavaleira
Pipridae (Tangarás)

Chiroxiphia caudata
tangará
Tityridae (Araponguinhas)

Pachyramphus polychopterus
Pachyramphus validus
caneleiro-preto
caneleiro-de-chapéu-preto
Vireonidae (Juruviaras)

Cyclarhis gujanensis
pitiguari
Corvidae (Gralhas)

Cyanocorax chrysops
gralha-picaça
Hirundinidae (Andorinhas)

Pygochelidon cyanoleuca
Tachycineta albiventer
andorinha-pequena-de-casa
andorinha-do-rio
Troglodytidae (Corruíra)

Troglodytes musculus
corruíra
Turdidae (Sabiás)

Turdus rufiventris
Turdus leucomelas
Turdus amaurochalinus
sabiá-laranjeira
sabiá-barranco
sabiá-poca
Mimidae (Sabiá-do-campo)

Mimus saturninus
sabiá-do-campo
Coerebidae (Cambacica)

Coereba flaveola
cambacica
Thraupidae (Sanhaços)

Saltator fuliginosus
Saltator similis
Cissopis leverianus
Nemosia pileata
Pyrrhocoma ruficeps
Trichothraupis melanops
Tachyphonus coronatus
Thraupis sayaca
Tersina viridis
Dacnis cayana
Hemithraupis guira
Conirostrum speciosum
pimentão
trinca-ferro-verdadeiro
tietinga
saíra-de-chapéu-preto
cabecinha-castanha
tiê-de-topete
tiê-preto
sanhaçu-cinzento
saí-andorinha
saí-azul
saíra-de-papo-preto
figuinha-de-rabo-castanho
Emberizidae (Papa-capins)

Zonotrichia capensis
Ammodramus humeralis
Sicalis flaveola
Volatinia jacarina
Sporophila caerulescens
Coryphospingus cucullatus
tico-tico
tico-tico-do-campo
canário-da-terra-verdadeiro
tiziu
coleirinho
tico-tico-rei
Cardinalidae (Cardeais)

Habia rubica
Cyanoloxia moesta
tiê-do-mato-grosso
negrinho-do-mato
Parulidae (Pula-pulas)

Parula pitiayumi
Geothlypis aequinoctialis
Basileuterus culicivorus
Basileuterus flaveolus
Basileuterus leucoblepharus
mariquita
pia-cobra
pula-pula
canário-do-mato
pula-pula-assobiador
Icteridae (Chopins)

Cacicus haemorrhous
Molothrus bonariensis
Sturnella superciliaris
guaxe
vira-bosta
polícia-inglesa-do-sul
Fringilidae (Gaturamos)

Euphonia chlorotica
fim-fim
Passeridae (Pardal)

Passer domesticus
pardal